quarta-feira, 13 de julho de 2011

01 ANO SEM PAULO MOURA

A exatamente um ano fechavam-se as cortinas para o saxofonista, arranjador e clarinetista Paulo Moura, sem dúvida alguma um dos mais atuantes e importantes instrumentista brasileiro de todos os tempos.

Por Bruno Negromonte


O tempo passou voando, mas a lembrança de um dos maiores instrumentistas brasileiro não. Há exato um ano falecia no Rio de janeiro o músico Paulo Moura, este que nasceu na cidade paulista de São José do Rio Preto e talvez por ser filho de um clarinetista e mestre de bandas, o músico tenha preferido (assim como os irmãos) ter seguido a mesma trilha feita pelo pai.

Ainda criança começou a estudar piano e tão rápido foi seu envolvimento e desenvoltura com a música que ainda na adolescência já tocava no conjunto do seu pai. Nessa época já percebia-se que Moura seria um exímio músico se desse continuidade aos estudos musicais. Pouco tempo depois, ao mudar-se junto com a família para o Rio de janeiro ingressou na Escola Nacional de Música, onde obteve o diploma de clarinetista. Dentre seus professores figuraram nomes como Moacir Santos, Guerra Peixe entre outros.
Quando deu início a sua carreira de músico profissional começou em gafieiras e nos cafés da Praça Tiradentes; porém logo em seguida começou a participar da orquestra de Osvaldo Borba e, em seguida, da Zacharias e Sua Orquestra.

Ainda na primeira metade década de 50 vieram importantes fatos que marcaram sua carreira, dentre alguns podemos citar o seu primeiro registro fonográfico, que aconteceu com a orquestra que acompanhou Dalva de Oliveira na gravação de "Palhaço" (composição de Nelson Cavaquinho) e em 1953, acompanhou Ary Barroso no México.

Ainda na década de 50 fez parte do Conjunto Guio de Moraes; gravou seu primeiro disco como artista solista, um 78 rpm contendo o "Moto perpetuo", de Paganini; formou uma orquestra para bailes; gravou o LP "Paulo Moura e sua Orquestra para Bailes"; assinou a direção musical de um espetáculo apresentado em países socialistas, com Dolores Duran, Nora Ney, Jorge Goulart, Maria Helena Raposo e o Conjunto Farroupilha; trabalhou como arranjador e orquestrador na Rádio Nacional e entrou para a Orquestra Sinfônica do Teatro Municipal, como clarinetista, Talém de gravar o LP "Paulo Moura interpreta Radamés Gnattali".

As décadas seguintes vieram só para sacramentar o nome de Moura como um dos maiores de nossa MPB, com registros fenomenais em diversos álbuns dos mais variados ritmos musicais e participação em diversos projetos (tanto solos quanto em parcerias). Na década de 60 o mundo conheceu o talento de Moura através de dois fatos: o primeiro a partir de sua participação na Orquestra de Severino Araújo em turnê pela Argentina e a segunda, como saxofonista, fez parte do conjunto Bossa Rio, com o qual se apresentou, em 1962, no Festival de Bossa Nova, realizado em Nova York.

Na década de 70 apresentou-se pela primeira vez na Grécia, voltou aos Estados Unidos e saiu em turnê pelo mundo a fora com o LP "Confusão urbana, suburbana e rural", DE 1976. No ano seguinte, gravou os discos "O fino da música", com Canhoto e seu Regional, Fina Flor do Samba, Raul de Barros e Conjunto Atlântico, "Choro na Praça", com Waldir Azevedo, Zé da Velha, Abel Ferreira, Copinha e Joel Nascimento, e "Altamiro Carrilho, Abel Ferreira, Formiga e Paulo Moura interpretam Vivaldi, Weber, Puncell e Villa-Lobos".

Na década de 80, lançou diversos discos como "Quarteto Negro" (1987), com Zezé Motta, Djalma Correia e Jorge Degas, "Encontro" (1984), com Clara Sverner (piano), "Consertão" (1982), com Elomar, Arthur Moreira Lima e Heraldo do Monte entre outros; além de ter participado de diversos outros álbuns dos mais conceituados nomes de nossa mpb, dentre suas participações podemos destacar a do álbum Djavan (1989), onde o cantor teve uma das vendagens mais expressivas de sua discografia devido a canção "Oceano".

Ainda na década de 80, mais precisamente em 13 de maio de 1988, junto com a Orquestra Sinfônica de Brasília apresentou uma composição para percussão e orquestra, de sua autoria, no "Concerto da Abolição", espetáculo em comemoração ao Centenário da Abolição da Escravatura, seguindo para apresentações na Bahia, Rio Grande do Sul e Espírito Santo, interpretando exclusivamente músicas de compositores brasileiros negros.



Na década de 90 vieram importantes prêmios em reconhecimento a sua obra, como o prêmio Sharp, na categoria Melhor Instrumentista Popular; com o CD "Pixinguinha", recebeu o Prêmio Sharp, nas categorias Melhor CD Instrumental e Melhor Grupo Instrumental e também o prêmio de Melhor Solista no Festival Mozart, em Moscou.

Em 2000, sua "Fantasia Urbana para Saxofone e Orquestra Sinfônica" foi apresentada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Nesse mesmo ano, recebeu o Grammy Latino, na categoria Melhor Disco de Música Regional (ou de Raízes Brasileiras), pelo disco "Pixinguinha", gravado com o grupo Os Batutas. Lançado no exterior pela Blue Jackel Records.

Na década seguinte participou do projeto Rio Sesc Instrumental juntamente com Yamandú Costa e talvez tenha sido uma das décadas que mais gravou, pois entre os álbuns lançados estão cd's como "Estação Leopoldina", "El negro del blanco" (com Yamandú Costa) e “Gafieira Jazz” (com o pianista americano Cliff Korman).



Em 2006, lançou, com João Donato, o CD "Dois Panos para Manga", concebido em uma reunião na casa do diretor de TV Mario Manga. Nesta oportunidade, foi sugerida aos dois artistas a gravação de um disco que registrasse alguns dos temas degustados pelos freqüentadores do Sinatra-Farney Fã Club na década de 1950. Os últimos trabalhos lançados em CD's foram "Samba de latada" (2007), em parceria com Josildo Sá, "Pra cá e pra lá – Paulo Moura trlha Jobim e Gerschwin" (2008), e "AfroBossaNova" (2009), em parceria com Armandinho. Ao longo de 2011 foi lançado o álbum póstumo "Alento - Paulo Moura e Teatro do Som".

Nos cerca de 60 ano de carreira Moura participou de significativos momentos de nossa música, seja em espetáculos (como por exemplo "Homenagem a Tom Jobim", ao lado de Armandinho, Yamandú Costa e Marcos Suzano, que seguiu em turnê tanto no Brasil quanto no exterior) ou em discos (ao longo de sua carreira, assinou arranjos para orquestras sinfônicas e para artistas da área popular, como Milton Nascimento, João Bosco, Ney Matogrosso e Marisa Monte, entre outros). Sua importância dentro da MPB o fez um dos nomes mais conceituados no cenário musical mundial até dia em que veio a falecer em 12 de julho de 2010. Mas fale enfatizar que morreu o homem, mas ficou o inestimável legado deixado por ele a partir de capítulo na história da música popular brasileira.

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