domingo, 16 de novembro de 2014

O ANTROPOFÁGICO CLÁUDIO BRASIL

Performático, o cantor e compositor, Cláudio Brasil metamorfoseia-se entre grandes nomes do rock nacional, Caetano Veloso e uma forte e marcante presença de palco 

Por Bruno Negromonte



Quando a Tropicália surgiu no final da década de 1960 vinha apresentando uma proposta estética bastante inovadora para a época. Sob influência das mais diversas correntes artísticas o movimento aglutinou distintas fontes para a sua formação seguindo sob influência das correntes artísticas da vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira e a partir daí misturando manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais. O movimento de fato chegou com uma proposta estética e vanguardista ao fundir as mais diversas influências. A tropicália foi um movimento iconoclasta, que almejava a música sem rótulos e fronteiras. Sua vontade era fundir as diversas vertentes da canção popular, da música brega à de protesto em uma verdadeira festa estética. E essa fusão não apenas marcou uma época, mas toda uma geração de músicos que viria posteriormente. A chamada MPB nunca mais seria a mesma após tal acontecimento.

Bebendo da fonte de um dos principais afluentes desse movimento, o cantor e compositor Cláudio Brasil vem em ascendente carreira em Pernambuco. Com um timbre vocal que assemelha-se ao do ídolo Caetano Veloso, o artista iniciou a sua carreira na década de 1990  na capital pernambucana ao formar a banda de pop rock Esquinas Paralelas. Essa banda contava com a adesão do irmão e de um amigo de 
Cláudio, chegando inclusive a gravar em 1993, de forma independente, o álbum "Negro pode ser também teu canto." À época do lançamento a imprensa pernambucana destacou o trabalho como um dos precursores da cena musical local enfatizando o modo independente como o álbum havia sido feito.

Na década em que a música sertaneja e o axé ganharia uma parcela significativa do mercado fonográfico nacional, o Esquinas Paralelas aproveitou a onda do momento e passou a tocar em trios elétricos e a viajar por todo Nordeste. Neste verdadeiro laboratório, o músico passou uma década que o fez quebrar estigmas e rótulos a partir do ecletismo ao qual foi submetido nessa época. Essa experiência entre axés e micaretas fez Cláudio desenvolver uma versatilidade sonora que hoje lhe é peculiar e que foi extremamente relevante para a sua trajetória musical a partir de experiências como a sua incursão em projetos como a banda Dionísio (trabalho onde era mesclado rock'n'roll e teatro de uma forma inusitada) e a Bacamarte (projeto que mesclava poesia nordestina com uma pegada punk hard core) entre outros projetos solos.





Em 2007 seu trabalho ganha uma visibilidade maior quando resolve atender aos apelos dos amigos e fãs e começa um trabalho voltado para o repertório de Veloso. Sua voz similar ao do grande ídolo e as fontes das quais bebeu acabou gerando um novo modo de interpretar a obra do  já multifacetado Caetano. Capitaneando esse projeto, Cláudio fundiu a MPB ao rock, e deu uma nova cara ao repertório do artista baiano. O próprio Caetano reconheceu essa inovação quando, no carnaval de 2009, assistiu ao espetáculo do grupo chegando inclusive a dividir o palco com Cláudio em uma das apresentações no Recife e fez elogiosos comentários acerca dessa reconstrução de sua obra. O magnetismo que o grupo exercia sobre o público, as performances inusitadas do vocalista e a híbrida sonoridade foram características responsáveis para que as portas abrissem-se plenamente na noite recifense. Dentre os fãs declarados da banda nomes como o saudoso produtor e compositor Carlos Fernando e o escritor Jomard Muniz de Brito. A banda, deixou como legado um DVD gravado no Pátio de São Pedro, um dos pontos turístico e artístico do Recife. 

A inquietude de Cláudio no palco traduz um pouco da personalidade do artista pernambucano. Envolto em diversos projetos, o cantor e compositor conduz a banda Maior Abandonado e Tio Mau Também capitaneia o grupo Os Caetanos, grupo acaba de lançar o primeiro DVD gravado recentemente na Rua da Moeda, no Recife Antigo. Neste registro áudio visual, além de abordar a obra do autor de clássicos da MPB como SampaLeãozinho e Qualquer Coisa, o DVD apresenta a inédita Tudo é permitidoSem contar, que o artista ainda conduz uma coesa carreira solo de modo bastante prodigioso como se é possível atestar a partir, por exemplo, do seu álbum autoral Transe, disco que traz dez faixas de sua lavra. Gravado no Recife o disco tem como tema central o amor, este mesmo sentimento que Cláudio vem dedicando à música ao longo destas últimas duas décadas e o revigora para enfrentar todos os estorvos que surgem ao longo de sua trajetória. Mesmo não sabendo que não é fácil, obstinadamente Cláudio não deixa-se abater e vem coerentemente conduzindo sua trajetória. A luta é grande, mas o artista pernambucano busca forças e coragem em versos e melodias como a que certa vez escreveu o seu grande ídolo: "Por isso uma força me leva a cantar  Por isso é que eu canto, não posso parar."


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