quinta-feira, 13 de março de 2014

A ESMERADA PERSONIFICAÇÃO DO SAMBA

Em um elaborado trabalho de resgate e valorização da obra de Noel o cantor, compositor e pesquisador apresenta-nos pérolas do repertório daquele que é considerado um dos grande ícones da música brasileira

Por Bruno Negromonte




Imbuído de sensibilidade e talento o cantor e compositor Luiz Henrique vem fazendo um esmerado trabalho não apenas de resgate mas também de valorização e perpetuação da obra de alguns dos grandes nomes da música brasileira na primeira metade do século XX. Primeiro idealizou, produziu e abordou o cancioneiro do José Barbosa da Silva, o Sinhô, em um tributo pelos 80 anos de ausência do artista o que resultou no espetáculo "Tributo ao Rei do Samba Sinhôe no álbum "Um  sinhô compositor - Sinhô eu canto assim". Morto em agosto de 1930, Sinhô iniciou a sua vida como compositor por volta de 1911, no entanto foi na década de 1920 que se destacaria como um dos mais relevantes compositores do cancioneiro popular com canções registradas pelas vozes de maior destaque da época como Mário Reis, intérprete de dois dos maiores clássicos da lavra do artista ("Gosto que me enrosco" e "Jura"). Não foi à toa que Luiz Henrique escolheu o repertório justamente de tal decênio para prestar esta homenagem a este que ainda nos dias atuais é considerado como um dos sambistas de maior destaque da música brasileira de todos os tempos. Agora, Luiz Henrique apresenta "Pro samba que Noel me convidou", mais um relevante projeto a favor da memória da canção popular. Neste trabalho o lado cantor e compositor do artista carioca divide espaço com rebuscado pesquisador, que retoma o seu objetivo de resgatar grandes nomes do cancioneiro popular. O escolhido da vez é o centenário sambista Noel RosaNeste novo álbum Henrique apresenta um trabalho histórico por si só não apenas pela qualidade, mas principalmente pelo minuciosa e dedicada pesquisa de resgate de nomes que corroboraram de um modo ou de outro para elevar o nome do poeta da Vila Isabel ao panteão da música popular brasileira.



Tal qual aurífice, Luiz Henrique em sua refinada busca trouxe para este projeto pérolas pouco conhecidas da lavra de alguns dos maiores sambistas que permearam a história de nossa música, destacando em particular os anos de 1930 para compor as doze faixas presentes no disco. Pode-se dizer que o registro da canção "Perdi o meu pandeiro", da lavra de Cândido das Neves (o Índio) composta na década de 1930 e registrada em disco pela primeira vez agora, oito décadas depois de composta é um dos pontos altos do projeto. No entanto merece destaque também registros como a canção "Esquecer e perdoar", uma parceria de Noel com Deocleciano da Silva Paranhos, o Canuto, antes registrada uma única vez em outubro de 1931. Sinhô faz-se presente como uma das grandes referências de Noel e autor de "A favela vai abaixo", samba registrado pela primeira vez por Francisco Alves em 1928. Já em dupla, Noel surge ora com Henrique Brito, seu parceiro e colega no Bando de Tangarás, ora com o partideiro e fundador da Escola de samba Azul e Branco, do morro do Salgueiro Antenor Gargalhada. Com Brito assina "Queimei o teu retrato", canção gravada pela primeira vez mais de duas décadas após composta e que neste novo registro Luiz Henrique conta com a luxuosa presença da cantora e compositora Marion Duarte. Sem data de composição conhecida o samba "Eu agora fiquei mal", foi a única parceria musical existente entre Antenor e Noel.


Dentre as canções que não são de autoria de Noel destaque para uma do cantor e compositor macaense Luiz Barbosa (que assim como o poeta da vila morreu antes de completar 30 anos de idade e vítima da tuberculose). Sendo um dos intérpretes pioneiros do samba sincopado, Barbosa ganhou projeção na década de 1930 cantando composições de alguns dos maiores compositores da música brasileira de então. No entanto o que poucos sabem é que o notório intérprete também compunha, e é uma dessas composições bissextas que Luiz Henrique garimpou para este álbum. "O que sinto por você", gravada pelo próprio autor em 1933 nesta nova versão ganha a luxuosa participação do cantor mineiro Paulo Marquez, um dos grandes nomes do universo do samba brasileiro. Há também o pianista e compositor Nilton Bastos com a canção "O destino é Deus quem dá", uma canção datada de 1929. Com um eloquente arranjo, a faixa se destaca pela presença do piano acústico executado por Fernando Merlino. O passeio pela obra dos grandes compositores dos anos de 1930 continua com a interpretação das faixas "Golpe errado" (Francisco Matoso) e "Você chorou" (Brancura). Como principal autor de sambas da década e grande inspiração para o projeto, Noel Rosa assina de modo individual três faixas interpretadas por Luiz Henrique. São elas "Último desejo" (inspirada canção dedicada a Ceci, o grande amor da vida do sambista); "O maior castigo que eu te dou" (gravada pela primeira vez pela Aracy de Almeida há oito décadas) e encerrando com chave de ouro Luiz interpreta o medley batizado de "Pro samba que Noel me convidou", composto pelas canções "Com que roupa?" (1930), "Palpite infeliz" (1935) e "Até amanhã" (1933).

Com produção e direção de Fernando Brandão (que também executa cavaco e violão de 6 cordas), seleção de repertório do próprio Luiz Henrique e projeto gráfico de Alex Mendesa tecitura do refinado álbum destaca talentosos músicos como os veteranos Jessé Sadoc (trompete com surdina) e Dirceu Leite (flauta), além de nomes como Whatson Cardozo (sax tenor e clarone), Chico Vhagas (acordeon), Fernando Merlino (piano acústico), Carlinhos 7 cordas (violão de 7 cordas), Júnior Castanheira (baixo elétrico), Felipe Tauiu e Thiago da Serrinha (percussões), Fabiano Segalote (trombone tenor), Márcio Hulk (bandolim) e Camilo Mariano (bateria). Além dos vocais de Cacala Carvalho, Lê Santana, Bruno Cunha e Karla da Silva.




Perpassar pela obra de um artista do quilate de Noel requer atenção redobrada, uma vez que de tão abordada, suas composições podem acabar soando lugar-comum a cada nova interpretação ou registro. Convicto deste risco o cantor, pesquisador e compositor Luiz Henrique buscou aprofundar-se não apenas nas cercas de 259 canções deixadas pelo poeta da Vila, mas procurou abranger em "Pro samba que Noel me convidou" todo o contexto musical da época escolhida para a abordagem (a década de 1930) a partir de outros compositores contemporâneos. Abordando temas de domínio público e um repertório nem um pouco clichê, o autor da canção "Grandes mitos" (gravada por Emilinha Borba e Cauby Peixoto) dá início a comemoração dos seus quinze anos de carreira em grande estilo e bom gosto, mostrando com talento e sinceridade musical uma alternativa para solucionar o inexplicável limbo que fantasmagoricamente assola grandes nomes da cultura brasileira de modo geral.




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