domingo, 4 de maio de 2014

MINISTRINHO, 100 ANOS

Armando Toschi, o ministrinho, será lembrado em exposição, shows, CD e documentário em sua terra natal pela passagem do seu centenário
Por Roberta Oliveira





Armando Toschi foi um apaixonado pela música, pelo samba, carnaval e futebol, de onde herdou o apelido. “Na década de 20, havia o Giovanni del Ministro que era ponta direita no Palestra Italia, atual Palmeiras, chamado apenas pelo sobrenome. Depois, surgiu outro ponta direita, Pedro Sernagiotto, que ganhou o apelido de Ministrinho. Armando também jogava futebol no Tupynambás, clube fundado pelos irmãos mais velhos dele. Alguns italianos que estavam no clube, e viram o Ministrinho paulista jogar, disseram que Armando tinha algumas características dele e começaram a chamá-lo assim”. Márcio Gomes contou que os Ministrinhos, jogador e sambista, se conheceram em um momento tipicamente italiano. “O Ministrinho paulista esteve na cidade e chegou a comer uma macarronada na casa do Ministrinho juiz-forano”, afirmou.

De acordo com Márcio, a ideia da homenagem foi apresentada no segundo semestre de 2013. “A recepção foi imediata. A importância do Ministrinho é que ele batalhou durante mais de 60 anos pelo samba de Juiz de Fora”, analisou.

O músico relatou que o samba entrou na vida de Armando Toschi na adolescência, primeiro em um bloco com os irmãos e depois, em 1932, a família fundou o bloco “Feito com má vontade”, no Largo do Riachuelo.

"Esse bloco já surgiu porque antes havia os cordões e os ranchos que não eram agremiações que priorizavam o samba. Os Toschi, empolgados, resolveram formar um bloco para cantar samba. Com isso, Alfredo, o irmão mais velho, e Ministrinho começaram também a compor, meio de brincadeira, e deu certo”, relatou Márcio Gomes.

A criação e a consolidação de escolas de samba no Rio de Janeiro inspiraram a evolução do bloco dos Toschi. “Em 1934, surgiu a ideia de transformar o ‘Feito com má vontade’ em escola de samba, assim nasceu a Turunas do Riachuelo. Foi a primeira escola de samba fundada em Minas Gerais e a quarta em atividade no Brasil ainda está no status de escola de samba”, narrou Márcio Gomes.

E a Turunas destacou a força do samba na vida de Ministrinho. “Ele está ligado à origem do samba e das agremiações carnavalescas na cidade. Durante toda a vida, participou, fez composições para a Turunas, teve sempre a participação segurando este estandarte de defesa, valorização, consolidação do samba em Juiz de Fora. No inicio, Alfredo estava à frente, mas ele se mudou da cidade em 1940. Então, o Ministrinho assumiu e ficou na escola até morrer”, explicou o músico.

Ministrinho Carnaval 1946 JF (Foto: Cezira Toschi/ Arquivo Pessoal)

Autor de composições como “Homenagem a Catulo”, com José Miranda Ribeiro, “Nosso ídolo”, com José Benedito da Silva, e “Último abrigo”, com Cesário Brandi Filho, Ministrinho também contribuiu para preservar a memória do samba da cidade. “Em 1940 ele fundou um grupo chamado Regional Turunas do Riachuelo, que depois virou o Conjunto do Ministrinho, que durou até pouco antes de ele falecer. O repertório era formado por sambas de compositores de Juiz de Fora. Desta forma, ele preservou oralmente um verdadeiro tesouro em termos de composições locais. Músicas que não foram gravadas em discos porque na época era muito difícil. Se não fosse esse trabalho, muitas obras dele e de músicos contemporâneos teriam se perdido”, afirmou Márcio Gomes, que gravou CD com algumas destas canções.


Centenário de homenagens

De acordo com informações repassadas pela Funalfa, ao longo da carreira, Ministrinho foi reconhecido com mais de 50 homenagens, troféus e medalhas, como o troféu Pequeno Jornaleiro, quando foi considerado Personalidade da Música Popular de Juiz de Fora pelos Diários Associados, em 1967. Além disso, recebeu a Ordem do Rio Branco, em Brasília, das mãos do então presidente Itamar Franco, e a medalha do Sesquicentenário de Juiz de Fora.

O superintendente Toninho reforçou que a homenagem na logomarca do Carnaval abriu uma sequência de eventos para lembrar Ministrinho. Estão previstas a abertura de três exposições no Centro Cultural Bernardo Mascarenhas (CCBM) sobre o compositor. “Em uma, haverá uma miniatura de uma escola de samba, com 500 integrantes, com todas as alas, carros alegóricos como se fosse um desfile em homenagem ao centenário do Ministrinho. Outra é uma fotobiografia e a terceira é uma exposição como se fosse um bazar que traz tudo que ele gostava, misturando boemia, futebol com samba, cerveja como se fosse ‘um butecão’”, explicou.
Ministrinho também será lembrado pela agremiação que fundou e defendeu ao longo da vida. O vice-presidente Diomário de Deus ressaltou que o enredo homenageia a Mata do Krambeck, mas os 80 anos da escola serão lembrados no último carro, com uma homenagem aos baluartes. “A Turunas valoriza muito a escola e a tradição. A maioria dos primeiros sambistas de Juiz de Fora começou ali, como o Ministrinho. Nós precisamos mostrar para os mais jovens a cultura do samba, de onde ele veio, quem fazia, para eles entenderem a importância do que fazemos agora”, analisou.

Márcio Gomes afirmou que a classe artística conseguiu outra homenagem ao compositor. “A Câmara Municipal já aprovou a concessão do titulo de cidadão benemérito ao Ministrinho. "A família dele receberá a homenagem”, disse o músico, que faz a ponte entre a família e os organizadores da programação especial do centenário.

O superintendente da Funalfa ressaltou que foi aprovada a liberação de recursos da Lei Murilo Mendes para projetos desta temática. Este mês, a praça batizada em homenagem a ele, no Bairro Jardim Glória, será palco de apresentações de Márcio Gomes. “Serão quatro shows aos domingos, no mês do centenário, comemorado em 4 de maio. A praça se chama Armando Toschi porque ele tocou no local regularmente por muitos anos. Ministrinho levava o violão, sentava e o pessoal ficava tocando com ele desde o inicio das décadas de 80 até ele falecer”, explicou Márcio Gomes.

Os outros projetos são um documentário do cineasta Marcos Pimentel e o terceiro é um CD do grupo de samba Quarteto Visceral, que terá no repertorio músicas compostas por Ministrinho e canções em homenagem a ele. “A ideia é lançar o CD ao longo do ano e fechar o 2014 com o documentário”, afirmou Gomes.

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