quarta-feira, 17 de junho de 2015

O FORRÓ “PÉ DE SERRA” E A MOTIVAÇÃO DOS JOVENS FORROZEIROS DE BELO HORIZONTE - PARTE 03

Por Camila Moura Cardilo*



RESUMO: 
O forró “Pé de Serra” contagia muitos jovens da cidade de Belo Horizonte. Assim, este estudo procura compreender o motivo que os levam a viver e reviver esta dança, música e espaço definido como forró. Primeiramente foi realizada uma pesquisa bibliográfica para apresentar o significado do forró “Pé de Serra”, do jovem e da motivação. Posteriormente, uma observação em um dos espaços da cidade em que se realiza o forró e uma aplicação de questionários a 20 jovens freqüentadores, deu continuidade à pesquisa. Quanto aos resultados verificou-se que, mesmo com as influencias externas do meio, os jovens possuem um forte envolvimento intrínseco com o forró pelo forte despertar de sentimentos e emoções.

PALAVRAS-CHAVE: Dança. Atividades de Lazer. Recreação.



O jovem...

“A juventude é uma etapa do desenvolvimento com características singulares, que apresenta mudanças no físico e no psiquismo; estado de espírito que torna tudo permitido” (GRINSPUN, 2007, p. 9).

Na década de 90 a juventude era vista como um problema social, envolvendo drogas, tráfico, violência, gravidez entre outros. Posteriormente, em 2000, organizações não governamentais- ONGs e fundações empresariais do terceiro setor passam a apoiar projetos de valorização de expressão cultural de jovens como forma de sociabilidade, com a finalidade instrumental de inclusão social, redução da violência ou geração de emprego. A atuação dessas organizações e agências contribuiu para trazer o jovem à cena pública, dando destaque e relevância aos segmentos juvenis. Em muitos casos, esses projetos se apoiaram na concepção do jovem enquanto protagonista, como agente de transformação (VILUTIS, 2009, p.35).

Quanto à faixa etária, a juventude se apresenta entre os 15 aos 29 anos de idade, podendo se estender para baixo ou para cima, tendo seu limite máximo dos 12 aos 35 anos de idade (LEÓN, 2005). Sociologicamente, o fim da juventude apresenta as seguintes características: terminar os estudos; viver do próprio trabalho; sair da casa dos pais e estabelecer-se numa moradia pela qual seja responsável ou co-responsável; casar; ter filhos. Porém, essas condições não bastam para caracterizar o termo “jovem”. Essas condições podem ser relativas e, portanto, não dão conta de caracterizar a condição juvenil (LEÓN; ABRAMO, 2005). A juventude não é um “dom” que se perde com o tempo, e sim uma condição social com qualidades específicas que se manifesta de diferentes maneiras segundo as características históricas sociais de cada indivíduo (BRITO5 apud LEÓN, 2005, p.13). Portanto, a juventude pode apresentar diversos significados, não se restringindo necessariamente e somente a faixa etária e sim se ampliando a questões sociais, históricas e culturais de cada individuo. Neste contexto, Luana Vilutis mostra o conceito sobre a juventude abordado no documento de Conclusão do Projeto Juventude, realizada pelo Instituto Cidadania:

A condição juvenil é dada pelo fato de os indivíduos estarem vivendo um período específico do ciclo de vida, num determinado momento histórico e cenário cultural. No contexto atual, juventude é, idealmente, o tempo em que se completa a formação física, intelectual, psíquica, social e cultural, processando-se a passagem da condição de dependência para a de autonomia em relação à família de origem. A pessoa torna-se capaz de produzir (trabalhar), reproduzir (ter filhos e criá-los), manter-se e prover a outros, participar plenamente da vida social, com todos os direitos e responsabilidades. Portanto, trata-se de uma fase marcada centralmente por processos de definição e de inserção social. [...] A condição juvenil não pode mais ser compreendida como apenas uma fase de preparação para a vida adulta, embora envolva processos fundamentais de formação. Ela corresponde a uma etapa de profundas definições de identidade na esfera pessoal e social, o que exige experimentação intensa em diferentes esferas da vida (INSTITUTO CIDADANIA, 2004, p. 10).

Diante da dimensão de significados da palavra “juventude” não podemos negar que o jovem busca sua identidade e, portanto, ele cria ou se insere em determinado grupo social. Lomônaco e outros (2008, p.14) acreditam que [...].

[...] fazer parte de um grupo é algo essencial para a vida dos jovens. Alguns buscam apenas pertencer a uma turma de amigos sem uma denominação própria. Outros escolhem fazer parte de uma tribo[...] as tribos reforçam um sentimento de pertencimento e favorecem uma nova relação com o ambiente social.

Ele se encontra ao identificar-se com: estilos de roupas, cabelo e acessórios, além músicas, crenças, culturas, valores, costumes. Então, é possível observar que a construção do grupo social dos forrozeiros é formada por “jovens” que, de alguma forma identificaram-se com o dançar, ouvir e frequentar o forró. Estes forrozeiros são jovens que possuem responsabilidades com o trabalho, com o estudo e com a família, mas que também possuem seus desejos e sonhos. Eles precisam da ludicidade, ou seja, a liberdade de ser e o prazer de viver. Esta experiência é possibilitada em seus momentos de lazer pela opção de vivenciar o forró “Pé de Serra”.

O forró é marcado por misturas culturais. Isso se vê presente nas letras musicais, na dança, nas características das bandas, nos instrumentos e na caracterização do próprio forrozeiro. Essa diversidade cultural se reconstrói, adquiri novos valores e características; transforma-se, envolvendo principalmente a participação do público jovem como sujeito transformador. 

O início da formação de um grupo jovem dedicado ao forró “Pé de Serra” tem como base, como vimos anteriormente, a migração dos nordestinos para o sudeste brasileiro na década de 40. O forró se propagou na década de 50, principalmente, através da rádio. No final da década de 60, Luiz Gonzaga aparece com o termo “forró” e, nesse mesmo período ocorre á aproximação dos jovens da classe média da sociedade com a cultura popular. Esses jovens passam a reverenciar o cantor, defendendo a música relacionada aos movimentos de protestos. O trabalho de jovens dramaturgos e poetas ganha destaque (SILVA, 2003). Em 1999, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou dados estatísticos referentes à população jovem na região Sudeste. Eles comprovam a migração dos jovens nordestinos, uma movimentação que levou o forró aos jovens “sudestinos”.

Regionalmente, merece destaque o fato de que a população jovem (grupo de 15 a 24 anos de idade) experimentou uma retomada em seu ritmo de crescimento nas Regiões Sudeste e Sul entre os períodos de 1980-1991 e 1991-1996, o suficiente para repercutir no nível nacional. A distribuição dos jovens pelas Grandes Regiões brasileiras mostrou que a Região Sudeste perdeu representatividade entre 1980 e 1996, enquanto que a Nordeste galgou percentuais, em função de uma provável retenção de migrantes potenciais aliada a uma migração de retorno proveniente, sobretudo do Sudeste. Com relação à situação de residência da população jovem, a Região Sudeste historicamente apresenta as maiores proporções de jovens residindo em áreas urbanas, seguida da Região Centro-Oeste. Mas a tendência geral de evolução é de aumento nestas proporções em todas as Grandes Regiões (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 1999). 

Mesmo com o provável retorno dos jovens migrantes para sua terra natal, o sudeste é tomado por jovens que tem como propósito, se encontrarem. A cultura nordestina torna-se mais uma opção para o jovem conhecer novas pessoas, dançar, namorar, se permitir. È mais um grupo social para ele inserir-se. Nesse momento o forró ganha destaque num novo cenário; nas metrópoles do sudeste brasileiro. Surgem bandas de forró, espaços dedicados à dança e música do forró “Pé de Serra” e a forte imagem da cultura nordestina na produção do jovem. Com o tempo, o forró é abraçado por quem realmente o admira. Atinge um público, em sua maioria jovem e fiel. Atualmente, os jovens forrozeiros tornam-se um grupo social alternativo. Eles se encontraram na dança, na música e no ritmo do forró “Pé de Serra”. Eles são únicos e reconhecíveis. As meninas usam roupas mais soltas (saias, calças, vestidos) e no pé as sapatilhas chinesinhas ou sandálias “rasteiras”; de couro ou trançadas nas pernas. Os meninos usam bermuda ou calça; tênis confortável, o famoso chinelo de couro ou simplesmente as havaianas. Além disso, os acessórios femininos chamam muita atenção, como: cintos, pulseiras, anéis de coco, colares feitos de sementes, tornozeleiras, brincos de penas e as cartucheiras.




REFERÊNCIAS

ALFONSI
, Daniela do Amaral. O forró Universitário em São Paulo. IN: MAGNANI,José Guilherme Cantor; SOUZA, Bruna Mantese de (Org.). Jovem na Metrópole:
etnografias de circuitos de lazer, encontro e sociabilidade. São Paulo: Terceiro nome,
2007. p. 42-65.

ATKINSON, Rita L. et al. Introdução à psicologia de Hilgard . 13. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002. 372p.

BANDEIRA, Benna. Motivação: um fator fundamental para a aprendizagem. Recanto das letras, 2008. Disponível em: http://www.recanto das letras.com.br/artigos. Acesso em: 28 dez. 2011.

BOCK, Ana Mercês Bahia.; FURTADO, Odair.; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. 13. ed. São paulo: Saraiva, 2002. 368p.

BROWN, Carlinhos. Segue o seco. In: MONTE, Marisa. Barulhinho bom . Faixa10. CD player. Disponível  em: <http://www2.uol.com.br/marisamonte/novosite/novositeport.htm>. Acesso em: 08 nov. 2010.

CORTÊS, Gustavo Pereira. Dança Brasil: festas e danças populares. Belo Horizonte: Editora Leitura, 2000. 186p.

DE ROSTO COLADO. Disponível em: http://letras.terra.com.br/trio-alvorada/1497819
.Acesso em: 22 nov. 2010. 

FONSECA, João José Saraiva da. Metodologia da pesquisa cientifica. Universidade estadual do Ceará, 2002. 127p. Disponível em: <http://books.google.com.br>. Acesso em: 21 dez. 2011.

GORDURINHAGONZAGA, Luis. Súplica Cearense. In: GONZAGA, Luis. Maxximum. lugar: Sony, 2005. Faixa 16. CD player.

GRINSPUN, Miriam Paura Sabrosa Zippin. 
Juventude: uma luz que transcende o olhar. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2007. 88p.

HUIZINGA, Johan. Homo Ludens: o jogo como elemento da cultura. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. 243p.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. População jovem do Brasil.
1999. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/populacao_jovem_brasil/default.sh
tm> Acesso em: 26 ago. 2010.

INSTITUTO CIDADANIA. Projeto Juventude: documento de conclusão. São Paulo, 2004.

JUNIOR, Antonio C. de Quadros. et al. Caracterização do xote e do Baião dançados no interior do Estado de São Paulo. Revista Movimento . Porto Alegre, v.15, n.03, p.233-
247, jul/set. 2009.

JUNIOR, Carlos de Quadros;VOLP, Catia Mary. Forró universitário: a tradução do forró nordestino no sudeste brasileiro. Revista Motriz. Rio Claro,v.11,n.2, p.117-120,mai/ago. 2005.

LANCELLOTTI, Julio Renato. O jovem: a imagem nas telas nas ruas. In: DIDONÉ, Iraci Maria; SOARES, Ismar de Oliveira (Org.). Jovem e a Comunicação: leitura do mundo, leitura de si. São Paulo: Loyola, 1992. p. 11-14.

LEÓN, Oscar Dávila.; ABRAMO, Helena Wendel. Juventude e Adolescência no Brasil:
referências conceituais. São Paulo : ação educativa, p. 5-35, nov. 2005. Disponível em:
<http://www.uff.br/emdialogo/sites/default/files/caderno_juventude_e_adolescencia_no
_brasil_0.pdf > Acesso em: 26 dez. 2011.

LOMÔNACO, Beatriz Penteado et al. Mundo jovem. São Paulo: Fundação Tide Seterbal, 2008. 179p.

MALINO, Kuque. Inovação. In: ESTAKAZERO. Lua minha . Leke, 2005. Faixa 01. CD player.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e Educação. São Paulo: Papirus, 1987. 144p. PROJETO FORRÓ BH. Disponível em: <http://www.portalpedeserra.com.br/blog/sobre> Acesso em: 11 out. 2010.

SANTOS, José Faria dos. Luis Gonzaga: a música como expressão do Nordeste. São Paulo: Ibrasa, 2004. 208p.

SAUDADE DE ITAÚNAS. Disponível em: <http://www.letras.terra.com.br/obandodemaria> Acesso em: 13 out. 2010.

SILVA, Expedito Leandro. Forró no asfalto: mercado e identidade sociocultural. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2003. 153p.

SILVA, João; AQUINO, J.B. de. Jerimum de Gogo. In: Marinês. Siu,siu,siu. 1964. Faixa 08. CD player. Disponível em: <http://www.cantorasdobrasil.com.br/cantoras/marines.htm> Acesso em: 02 de set. 
2010.

TEIXEIRA, Humberto; GONZAGA, Luiz. Baião. Rádio batuta: Instituto Moreira Sales
. 1949. Disponível em: < http://homolog.ims.com.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/> Acesso em 10/11/2010.

VALENÇA, Alceu. Coração bobo. In: VALENÇA, Alceu. Coração bobo . Ariola, 1980. Faixa1. Disco de Vinil. Disponível em: <http://www.alceuvalenca.com.br> Acesso em: 08 nov. 2010.

VERNON, Magdalen Dorothea. Motivação Humana: a força interna que emerge, regula e sustenta todas as nossas ações. Petrópolis. Rio de Janeiro: Vozes, 1973. 303p.

VILUTIS, Luana. Cultura e juventude : a formação dos jovens nos pontos de cultura. 2009. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo,  São Paulo, 2009.



* Bacharel em Educação Física pela PUC- Minas.

0 comentários:

LinkWithin