sábado, 1 de outubro de 2016

PETISCOS DA MUSICARIA: SÉRIE ‘DOSE DUPLA’ V – DUAS VERSÕES DA MESMA MÚSICA – NELSON FERREIRA



Mestre Nelson Ferreira


Esta série Dose Dupla tem me dado muito prazer e um ótimo retorno do público leitor, que se sente identificado com uma ou mesmo as duas versões que apresento de uma mesma canção.

Hoje é dia de falarmos de música símbolo do cancioneiro Pernambuco e também sucesso nacional. Evocação nº 1, frevo de bloco de Nelson Ferreira, foi cantado e tocado (em ritmo de marcha) o tempo todo no carnaval do Rio de Janeiro, de 1957.

Garimpando as regravações encontrei, há mais de 20 anos, essa preciosidade na voz de Beth Carvalho, em início de carreira. Ouçam, que bela interpretação.

De acordo com a obra “Do Frevo ao Manguebeat”, excelente trabalho do jornalista José Teles, do Jornal do Comércio, do Recife, a coisa se deu assim:

“A música fez tanto sucesso que o carioca chegou a aprender a letra e a cantá-la, embora confundisse os nomes de dois homenageados de carnavais passados do Recife, Felinto e Pedro Salgado, com Filinto Müller, chefe da polícia política de Getúlio Vargas e Plínio Salgado, fundador do AIB – Ação Integralista Nacional -, partido brasileiro de ultra-direita”.

Evocação nº 1, de Nelson Ferreira, com Beth Carvalho, no disco “Canto Por um Novo Dia”, de 1973

A Letra

Felinto, Pedro salgado, Guilherme, Fenelon
Cadê teus blocos famosos
Bloco das flores, andaluzas, pirilampos, apôs-fum
Dos carnavais saudosos

Na alta madrugada
O coro entoava

Do bloco a marcha-regresso
E era o sucesso dos tempos ideais
Do velho raul moraes
Adeus adeus minha gente
Que já cantamos bastante
E recife adormecia
Ficava a sonhar
Ao som da triste melodia


Agora, Evocação nº 1 em sua versão original com o coro de Batutas de São José:


Coral Feminino do Bloco Carnavalesco Batutas de São José – 1957

Registro do vídeo: Samuel Machado Filho – Lançado pela Mocambo em janeiro de 1957 nesse 78 rpm de número 15142-B, matriz R-791, e no LP coletivo de 10 polegadas “Viva o frevo!”, como faixa de abertura, este frevo-de-bloco, primeiro de uma série de sete “Evocações”, foi sem dúvida o maior sucesso de Nélson Ferreira como autor. Foi hit até mesmo no Rio e em São Paulo, em ritmo de marchinha, e aproveitado no filme “Uma certa Lucrécia”, de Fernando de Barros, co-produção Serrador/Cinedistri, estrelada por Dercy Gonçalves. No lado A saiu o maracatu “Nação nagô”, de Capiba, com o grupo Os Cancioneiros.


Breve Perfil

Pode parecer uma obviedade, mas sinto que falamos muito de Nelson Ferreira, mas será que o conhecemos tão bem assim? Pelo sim, pelo não, resolvi deixar registrado aqui um pequeno perfil deste que foi, ao lado de Capiba, um dos fundadores da autêntica música pernambucana.

Nelson Heráclito Alves Ferreira nasceu em Bonito, em 9 de dezembro de 1902, foi um grande compositor brasileiro, falecido no Recife, em 21 de dezembro de 1976.

Tendo de sua autoria composições de vários ritmos e estilos, como foxtrote, tango, canção, especializou-se e foi conhecido no Brasil como compositor de frevos.

Nelson Ferreira nasceu em Pernambuco, filho de um violonista vendedor de jóias e de uma professora primária. Aprendeu a tocar violão, violino e piano. Fez sua primeira composição aos catorze anos, a valsa Vitória, sob encomenda.

Tocou em pensões, cafés e saraus e nos cinemas Royal e Moderno, no Recife, sendo considerado o pianista mais ouvido na época do cinema mudo.

Foi diretor artístico da Rádio Clube de Pernambuco, convidado por Oscar Moreira Pinto. Também Diretor artístico da Fábrica de Discos Rozenblit, selo Mocambo, única gravadora de discos instalada nos anos 1950 fora do eixo Rio/São Paulo. Estudou no Grupo Escolar João Barbalho – Recife/PE. Maestro, formou uma orquestra de frevos cuja fama percorreu todo o Brasil.

Nelson Ferreira é um dos nordestinos com maior número de músicas gravadas na discografia brasileira. Grande parte delas, no entanto, restringiu-se a Pernambuco e ao Nordeste.

Sua primeira composição gravada foi Borboleta não é ave, em parceria com J. Borges pela gravadora Odeon, em 1924 pelo Grupo do Pimentel, como samba, e pelo cantor Baiano, como marcha.

A composição mais famosa, um frevo de bloco, foi Evocação número 1, a primeira das 7 evocações compostas por ele, e que foi sucesso no carnaval de 1957 no Rio de Janeiro, cantada em ritmo de marcha.

Outras composições de sua autoria, famosas na época: ‘Não puxa, Maroca’; ‘Dedé’; ‘O dia vem raiando’; ‘Quarta-feira ingrata’; ‘Frevo da saudade’; ‘Chora, palhaço’; ‘Boca de forno’; ‘Sabe lá o que é isso?’ ; ‘Pernambuco, você é meu’; ‘Cabelos brancos’; ‘Bem-te-vi’; ‘Arlequim; Veneza Americana’; ‘Bloco da vitória’.

O compositor fez o hino do Bloco ‘Timbu Coroado’, que sai pelas ruas do bairro dos Aflitos, no Recife, no domingo de Carnaval e pertence ao Clube Náutico Capibaribe. Para este clube, também fez o frevo Come & Dorme, talvez a música que mais esteja associada ao futebol alvirrubro pernambucano.

Também é o autor do frevo-canção Cazá Cazá Cazá (1955), após o pedido na época do jovem Eunitônio Edir Pereira, que anos depois iria compor o Hino Oficial do Sport Club do Recife.

Nelson Ferreira teve como parceiros musicais, entre outros, com Sebastião Lopes; Ziul Matos; Aldemar Paiva; Oswaldo Santiago; Eustórgio Wanderley.

Além de Claudionor Germano, um de seus maiores intérpretes, cantor de frevos de outros compositores, principalmente Capiba, também gravaram composições de Nelson Ferreira os cantores: Francisco Alves; Almirante; Carlos Galhardo.

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