quinta-feira, 3 de agosto de 2017

ZÉ RENATO - ENTREVISTA EXCLUSIVA - PARTE 01

Com 40 anos de carreira, o músico capixaba faz uma retrospectiva biográfica a partir de sua trajetória enquanto integrante de vários projetos musicais, assim como também instrumentista, compositor e intérprete em diversos projetos solo

Por Bruno Negromonte (com colaboração de Karina Sampaio)



De passagem pela capital pernambucana, onde apresentou-se em duas ocasiões em Casa Forte, o cantor, instrumentista e compositor Zé Renato recebeu-nos para um descontraído bate-papo onde relembrou histórias suas ligadas ao período que antecedeu o início de sua trajetória musical, a sua participação nos grupo "Cantares", projetos fonográficos (solos, em duo e projetos coletivos) e sua participação no grupo que o projetou nacionalmente: o Boca Livre. Nesta informal conversa é possível também tomar conhecimento de algumas curiosidades acerca do autor de "Bicicleta" como sua breve passagem pelo teatro e a importância do show "Milagres do peixe", do Milton Nascimento, em sua trajetória musical. Além disso, falamos sobre projetos futuros, lançamentos fonográficos agendados para breve, sua relação com o público pernambucano entre outras coisas. Papo agradabilíssimo que você confere em duas partes! Boa leitura!



Para começarmos gostaríamos de abordar um pouco da época que antecede o inicio de sua carreira musical. Qual é a lembrança mais remota que você tem da música ainda no Espírito Santo?

Zé Renato - Eu não cheguei a morar lá no Espírito Santo. Eu só nasci, mas fui criado no Rio de Janeiro... então todas as minhas influências foram a partir de minha vivência no Rio. Meu pai era jornalista, circulava muito no meio da música e por conta disso eu sempre tive a música muito presente dentro de casa. Ele era amigo do Silvio Caldas, o Silvio Caldas ía cantar na minha casa, eu assisti a vários shows do Silvio Caldas... A partir daí eu ganhei um violão (eu tinha por volta dos treze anos mais ou menos... talvez menos um pouco...). Daí com o violão comecei a aprender, entendeu? Aprendi um pouco assim e comecei a participar de festivais nos colégios


É verdade que antes dessa sua introdução na música você atuou na peça “A Perda Irreparável” dirigida por Ziembinski? 

ZR – Ah, sim! É... foi uma participação muito rápida assim, muito discreta porque o meu pai trabalhava no Copacabana Palace e precisaram lá de... tinha um personagem que era uma criança que entrava no meio lá do negócio, aí eu fiz mas ficou ali. Estava mais interessado em tomar sorvete que tinha lá no Copacabana do que na peça.


E a questão do instrumento em si? Como foi que o violão entrou em sua vida?

ZR – O violão eu ganhei, comecei a aprender, mas nunca me adaptei ao estilo formal porque eu sempre saquei, comecei a descobrir a relação dos acordes, tirar música sozinho e tal. Então minha base teórica é muito pouca, eu até cheguei a estudar, tenho uma base; mas eu não utilizo isso no dia-a-dia, então eu sempre fui muito intuitivo. O primeiro caminho foram os festivais de colégio.


Dentro dessa ordem cronológica tem um show que foi marcante para você que foi o “Milagre dos peixes”?

ZR – Isso. Aí eu já tocava, já tinha um grupo, mas inda tocava em colégios (festivais de colégio) naquela fase de está estudando pra fazer vestibular e essas coisas todas, mas a música já estava ficando cada vez mais presente na minha vida e foi um período em que eu...


... Foi com esse show o seu primeiro contato com a sonoridade mineira?

ZR – Sim.


Ela acabou influenciando muito, de certo modo, no início de sua carreira?

ZR – Foi. Foi uma das maiores influências como compositor, como cantor, tudo né?


Vem desse show o seu primeiro contato com o Juca Filho (visualmente falando) não é?

ZR – Eu vi o Juca nesse show, não nos conhecíamos ainda, mas lembro de ter visto ele... tava lá... aí um tempo depois a gente se conheceu. Eu o conheci através de um amigo que estudava comigo no pré-vestibular que era músico e me apresentou ao Juca, daí a gente já começou a fazer música, eu já comecei a desenhar uma história que acabou se tornando o Cantares em primeiro lugar que foi o grupo que foi assim o primeiro trabalho, o primeiro grupo que eu participei já indo para uma história em direção ao profissionalismo... o Cantares durou aí dois, três anos... aí já apareceu o Boca Livre. 


Que foi a partir de uma apresentação do Cantares na Urca? Foi quando surgiu o convite do Maurício para aquilo que viria a ser o grupo não é?

ZR – Do David... o David era o organizador desses shows que chamava-se “Quem sabe, sobe”; era uma série de shows que aconteceram na Urca e tal... Aí abrimos para o Hermeto Pascoal e aí começamos a ensaiar. Existia o Cantares, mas aí a partir do momento que começamos a ensaiar com o Boca Livre e as coisas começaram a acontecer não deu pra conciliar as duas coisas e aí me dediquei mais ao Boca Livre e as coisas começaram assim a se desenhar mais profissionalmente. E aí foi uma coisa! Edu Lobo (que aí nos viu, nos conheceu e chamou para gravar o disco dele), daí fomos fazer o Projeto Pixinguinha com ele. Já voltamos do projeto Pixinguinha e já gravamos o nosso primeiro disco... e aí a coisa foi muito rápida.


Esse primeiro disco de vocês é um marco ainda hoje na discografia brasileira pelo repertório e acima de tudo por receptividade junto ao grande público. Como você acha que ele alcançou tão rapidamente esse patamar mesmo sendo produzido de modo independente? Você acha que houve algum fator que contribuiu pra isso ou foi sorte mesmo?

ZR – Tem tudo isso junto, um pouco de cada coisa. Tinha naquele momento ainda um espaço nas rádios que hoje não existe mais... existia naquele momento ainda uma possibilidade de divulgar, de se programar músicas como a que a gente fazia. Apesar de que a nossa história naquele momento não era visto pelas pessoas de gravadora como uma coisa, digamos, de acesso comercial; mas a gente... é... isso ainda existia um espaço na rádio para acontecer o que aconteceu. Tanto que a gente não tinha, não era um grupo que tinha dinheiro para pagar jabá ou coisa parecida.


Agora mesmo neste contexto independente havia essa abertura?

ZR – Pois é! Tinha ainda... acho que foi um dos últimos momentos onde a rádio tinha uma certa abertura para programar esse tipo de música. A partir daí, depois, rapidamente foi se transformando e hoje o espaço é quase nenhum.


Por que o formato de vocês à época era mais comum na década de 1940, 1950 com o Bando da Lua, os Anjos do Inferno... De repente vocês voltam nos de 1970 com um formato semelhante... 

ZR – Até o surgimento do Boca Livre o que estava mais em mais evidência era o MPB-4 quanto a vocal masculino. Apesar que são duas concepções completamente diferentes, a gente tem as coisas dos violões que estão juntos, os arranjos, coisa que no MPB-4 é mais os vocais... é outra maneira, outro tipo de arranjo e tal... Mas o Boca Livre vinha com uma coisa, uma proposta que misturava a influência mineira (bastante), essa sonoridade de violões e tal... Isso não foi, não era muito... tanto que a opção por independente... a gente tentou gravadora. Tivemos reuniões com gravadoras e nenhuma das pessoas ligadas às gravadoras que a gente tinha entrado em contato na época enxergou a gente como um produto ou uma coisa que pudesse dar certo comercialmente falando.


Eu vi acho que até em um blog teu que essas gravadoras de início queriam moldar vocês a uma espécie de Bee Gees brasileiros...

ZR – Isso... um deles falou isso: Que a gente devia ser os Bee Gees brasileiro, mudar o repertório... quis falar isso: que a gente cantava bem, mas a concepção tinha que ser outra. 


Ainda bem que vocês não seguiram a sugestão...

ZR – Pois é... Acabou que eles fizeram... quer dizer, acabou a gente teve o nosso sucesso foi muito rápido! A partir do momento que fizemos shows e tal, e a música começou a tomar um público, os shows começaram a ter muita gente, e aí as rádios viram que... foi uma coisa muito... um negócio que aconteceu aí... já entrou em trilha de novela... Quando entrou em trilha de novela na verdade a música já era sucesso.


Tem umas quatro músicas que caíram no gosto popular mesmo não é?

ZR – Foi... Eu lembro de fazer, por exemplo, o Ponta de areia, que foi uma das que a gente gravou no Fantástico e a pedido do público eles repetiram no domingo seguinte, quer dizer, foi um negócio até então inédito no programa. Então muita coisa foi acontecendo assim muito rápido, Os shows foram tendo um público muito grande, e tanto que chegou um momento que a gente já não tava mais... fizemos o segundo disco independente, mas aí já não tava mais conseguindo administrar a carreira desse modo. O independente hoje é diferente, já a muito tempo que o independente virou uma outra história, você tem várias alternativas de distribuição, de divulgação e naquela época não. A gente ainda tinha que cuidar das coisas: O LP que não chegou não sei aonde... tudo a gente cuidava praticamente. Tinha outras pessoas junto, mas a gente participava muito desse processo, então isso foi desgastando a gente também, tanto que a gente desistiu e fomos para uma gravadora.


Em 1982 você dá início a sua carreira solo com o disco “A fonte da vida” disco onde constam dez canções suas com distintos parceiros. Analisando a discografia do Boca que antecede esse projeto, em três discos há sete canções de sua autoria (Inclusive uma delas dá nome a um dos LP’s do grupo que é “Bicicleta”). Esse contexto que fez você chegar a esse primeiro disco solo surgiu por que já não dava mais para represar esse seu lado autoral ou por outras circunstâncias?

ZR – É mais ou menos isso, quer dizer... o Boca Livre por se tratar de um grupo vocal, um grupo que tem uma maneira de conceito onde nem todas as músicas por mais bonitas e músicas que a gente achamos ótimas, mas que quando a gente começa a tocar nem sempre elas rendem um arranjo que seja satisfatório pra todo mundo, pro grupo. Então, assim, essa maneira de lhe dar com o grupo também eu fui aprendendo e vendo que nem tudo... o grupo era incapaz de absorver todas as ideias de todo mundo. Por isso é que eu não abri mão de (foi uma coisa também bacana no grupo) conviver com isso, de ter cada... cada um de nós desenvolver projetos exatamente para não ficar ali estrangulando o trabalho do grupo e isso é uma coisa que rola até hoje. Eu mesmo faço parte do grupo, mas faço vários projetos paralelos.


Sua carreira solo é marcada por alguns discos em homenagem a grandes nomes de nossa música a exemplo de Silvio Caldas, Noel, Chico e Zé Keti. Tem mais alguma ainda em vista que você pretende prestar homenagem?

ZR – Olha, vai sair... vai sair uma caixa... Tava prevista para esse ano, não sei com essa confusão toda, mas já tava praticamente organizada pra sair uma caixa de disco reunindo aí discos meus como... alguns como intérprete só né? Do Zé Ketti, do Sílvio Caldas... E um desses cd’s que vai tá incluindo nessa caixa é um show que foi gravado ao vivo, no Rio de Janeiro, que eu fiz sobre o repertório do Orlando Silva. Foi gravado de uma maneira despretensiosa, mas aí fomos ouvir e achamos que como registro vale a pena ser incluído, ser feito. Aí quando essa caixa sair esse cd vai está incluso, sobre o repertório do Orlando Silva. 


Já cogitou a possibilidade de uma homenagem ao Milton (artista o qual você se declara fã)?

ZR – Eu vivo gravando coisas dele, mas um disco dedicado especialmente por enquanto pelo menos não; mas quem sabe né?


Você tem Anima em parceria com ele não é?

ZR – É... “Anima”... “Anima” e “Ponto de encontro”...




Serviço:
Show Boca Livre - Turnê Amizade

Data - 03 e 04 de agosto
Local - Teatro Margarida Schivasappa (Belém/PA)
Horário - 21:00hs

Classificação Indicativa - Livre
Valor do Ingresso - R$ 60,00 (Inteira) / R$ 30,00 (Meia)

9º Lençóis Jazz e Blues Festival 2017 - Circuito Barreirinhas - MA
Show "Papo de passarim" (Com Renato Braz)
Data - 12 de agosto
Local - Av. Beira Rio

Horário - 21:15hs
Classificação Indicativa - Livre
Valor do Ingresso - Evento gratuito

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