sexta-feira, 13 de outubro de 2017

OS NOVOS AFRO SAMBAS DE AMORIM E PINHEIRO

Por Tárik de Souza




Nomeado a partir do disco “Os afro sambas”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, de 1966, o gênero que conecta nosso ritmo principal com suas raízes vem de longe, praticado de formas diversas desde a santíssima trindade ancestral, Donga, Pixinguinha e João da Bahiana. O próprio Vinicius já havia se aventurado por este caminho em “Água de beber” (1961), com Tom Jobim, “Berimbau” e “Consolação” (1964), com o próprio Baden, além de entabular parcerias com o maestro pernambucano Moacir Santos (“Triste de quem”, “Menino travesso” ), o artífice inescapável do clássico “Coisas” (1965), alicerçado “nos candomblés e maracatus de sua terra”, como define o poeta e letrista Paulo Cesar Pinheiro.

Co-autor de “Lapinha” com o supracitado Baden, Pinheiro já desenvolvera o gênero em “Áfrico”, ao lado do compositor, cantor e violonista mineiro Sérgio Santos. Em “Voz nagô”, em parceria com o bandolinista e compositor carioca Pedro Amorim, ele retoma essa vereda afro brasileira, procedente do candomblé e capoeira, através de um conjunto de 14 afro sambas, lundus, chulas e jongos, inéditos em sua maioria.


“Iemanjá rainha do mar” e “Linha de caboclo” tinham sido gravadas por Maria Bethânia, em 2006 e 2009, e “Voz nagô” (na releitura, com participação de Pinheiro) foi registrada pelo percussionista pernambucano Naná Vasconcelos, em 2002. No disco, Amorim troca seu instrumento principal, o bandolim, pelo violão (que domina também no registro tenor, junto com o cavaquinho e o banjo), ao lado de um afiado grupo de percussionistas, Thiago da Serrinha, Paulino Dias, Pedro Miranda e Marcus Thadeu e o intenso clarone de Pedro Paes.

Embrenha-se por temas embebidos em misticismo religioso, como “Tocador de santo”, “Dança dos orixás”, “Ogum-megê”, denuncias de injustiças (“Quilombo dos Palmares”, “Sina do negro”, “Voz nagô”), cenas de capoeira (“Batizado”) e ainda escaramuças e exaltações amorosas (“Brigador”, “Sangue de rei”, “Sestrosa”), como as dos certeiros versos (“o mestre que me ensinou/ nunca foi à escola”) de “Berimbau de Angola”: “A navalha do ciúme corta até lenço de seda/ quero em vez desse perfume/ pra seguir minha vereda/ mais amor de vagalume que paixão de labareda”.

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