sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

05 ANOS SEM BRAGUINHA

Poucos o conhece por Carlos Alberto Ferreira Braga, geralmente quando se há referência a seu nome dentro da MPB até hoje referem-se a ele por nomes como João de Barro ou Braguinha, porém independente do nome atribuído a este grande compositor a saudade se faz presente pelos 5 anos de sua partida.

Por Bruno Negromonte


Sua fama se construiu a partir de dois pseudônimos que marcam até hoje a música popular brasileira. Braguinha ou João de Barro tanto faz, o que mais importa é o seu legado dentro da música brasileira com composições que transformaram-se em clássicos e levaram o nome de Carlos Alberto Ferreira Braga para o hall dos grandes compositores do século XX. Braguinha em parceria com Pixinguinha, é autor dentre outras canções, do chorinho "Carinhoso", um dos maiores clássicos da música brasileira.

Nascido no Rio de Janeiro, filho de um casal de classe média, Carlinhos, como era chamado na família, passou a adolescência em Vila Isabel, onde seu pai era diretor da fábrica de tecidos Confiança. Quando cursava o Colégio Batista conheceu o violonista Henrique Brito. Com ele tenta aprender alguns acordes e dessa amizade nasceu o interesse pela música, fazendo com que, aos 16 anos, ele criasse a letra e a música de Vestidinho Encarnado e posteriormente ajuda então na formação do conjunto Flor do Tempo com apoio do comerciante Eduardo Dale, que gostava de apresentá-los em sua bela casa quando recebia visitas e amigos.

O Flor do tempo, sem considerar os eventuais adendos, era formado por Almirante e Noel Rosa, embora não - alunos do colégio, Henrique Brito, Alvinho (Álvaro de Miranda Ribeiro) e Braguinha e costumavam apresentar-se em casas de amigos e clubes. Cerca de um ano e meio depois, em 1929, seus componentes, desejando vôos mais altos, mudam seu nome para Bando de Tangarás (o grupo gravou 19 músicas, sendo 15 de autoria de Braguinha). Braguinha, que fazia Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, resolve então adotar o pseudônimo de João de Barro, justamente um pássaro arquiteto, porque seu pai não gostou de ver o nome da família circulando no ambiente da música popular, mal visto na época.



No carnaval de 1930, marcam um sucesso extraordinário com o samba Na Pavuna (Homero Dornellas e Almirante), com Almirante fazendo o solo vocal. Porém O "Bando dos Tangarás" desfez-se em 1933. No ano seguinte, matriculado no 3º ano, resolve deixar a arquitetura e dedicar-se à composição, e nesse mesmo ano João de Barro conhece duas pessoas que marcariam sua carreira: Alberto Ribeiro, seu maior parceiro, e Wallace Downey, um americano que o conduziu à indústria do cinema e dos discos.

No carnaval de 1933, consegue seus primeiros grandes sucessos com as marchas Moreninha da Praia e Trem Blindado, pouco antes do fim do Bando de Tangarás, ambas interpretadas por Almirante, que se casaria no ano seguinte com sua irmã Ilka.

Braguinha foi roteirista e assistente de direção em filmes da Cinédia. Com Alberto Ribeiro, escreveu argumentos e composições para a trilha sonora de filmes como "Alô, Alô, Brasil" e "Estudantes" cuja personagem principal foi interpretada por Carmem Miranda. Atuou como diretor artístico da gravadora Columbia, no Rio de Janeiro, ao mesmo tempo que compunha sucessos como o inesquecível "Carinhoso" (1937, com Pixinguinha) e "Sonhos Azuis" (1936, com Alberto Ribeiro).



Em 1938, casou-se com a professora Astréa Rabelo Cantolino. No carnaval daquele ano lançou três marchas que se tornaram clássicos: "Pastorinhas" (com Noel Rosa), "Touradas em Madri" e "Yes, nós temos bananas" (com Alberto Ribeiro).

Ainda em 1938, foi um dos responsáveis pela dublagem brasileira de "Branca de Neve e os Sete Anões", de Walt Disney. Também participou das versões brasileiras de "Pinóquio" (1940), "Dumbo" (1941) e "Bambi" (1942), entre outros.

Em 1939, nasceu Maria Cecília, sua única filha. Apaixonado por histórias infantis, escreveu, adaptou e musicou várias delas, como "Os Três Porquinhos", "Festa no Céu" e "Chapeuzinho Vermelho".

Em 1941, em parceria com Alberto Ribeiro, fez a versão de "Valsa da Despedida", tema do filme "A ponte de Waterloo".

Como autor de versões, Braguinha se destacou em diversas canções com parceiros internacionais, como Charles Chaplin em "Luzes da Ribalta" e "Sorri".

Extinta a Columbia no Brasil, em 1943, nasceu a Continental, também tendo Braguinha na direção artística. Um de seus maiores sucessos internacionais seria composto em 1944: "Copacabana", gravada dois anos depois por Dick Farney.

Na linha carnavalesca, surgiram as composições "Anda Luzia" (1947), "Tem Gato na Tuba" (1948), "A mulata é a Tal" (1948) e "Chiquita Bacana" (1949). Em 1950 Braguinha tornou-se um dos fundadores da Todamérica, gravadora e editora musical.

Em 1979, Gal Costa regravou "Balancê", colocando novamente o compositor em destaque no novo cenário da MPB. Teve dois espetáculos montados em sua homenagem: "O Rio Amanheceu Cantando", na boate Vivará, em 1975, e "Viva Braguinha", na Sala Sidney Miller, em 1983.

Foi homenageado no carnaval em 1984, ano da inauguração do Sambódromo, desfilando como tema da Mangueira, escola campeã daquele ano com o samba enredo "Yes, nós temos Braguinha". O nome deste samba se transformou no título de sua primeira biografia, com texto de Jairo Severiano.

Sua musicografia completa, inclusive com versões e músicas infantis, passa dos 420 títulos, uma das maiores e de mais sucessos de nossa música popular. Seu parceiro mais constante foi Alberto Ribeiro (1902-1971), médico homeopata e direto amigo. O interessante é que não lê música e só compõe de ouvido. Também não toca nenhum instrumento. Escreve letras para músicas de outros, mas raramente põe melodia em versos alheios.



Sua obra apresenta todos os gêneros. Pode-se afirmar que sem Braguinha o carnaval brasileiro não teria sido musicalmente o que foi. O cinema brasileiro igualmente muito lhe deve, não apenas como autor de músicas, mas também como roteirista e assistente de direção. Na dublagem de filmes de Walt Disney, mesmo com poucos recursos técnicos, conseguiu resultados admiráveis, que impressionaram o próprio Disney, o qual lhe ofereceu um relógio de ouro com dedicatória especial.

Na gravadora continental, ex - Colúmbia, durante muitos anos foi diretor-artístico, contribuindo para a projeção de inúmeros artistas, época em que também lançou, no selo Disquinho, uma coleção de mais de 70 histórias infantis, que adaptava, criava e musicava, para encanto de gerações de crianças até os dias de hoje.

Participou como diretor e roteirista de filmes como Estudantes (1935), Alô, Alô, Carnaval (1936), Banana da Terra (1938) e Laranja da Terra (1940). Nessa época, começou a trabalhar como diretor artístico da gravadora Continental, onde projetou nomes como Radamés Gnattali, Tom Jobim (sua Sinfonia do Rio de Janeiro, parceria com Billy Blanco foi gravada duas vezes), Lúcio Alves, Dick Farney, Doris Monteiro, Tito Madi, Nora Ney, Jorge Goulart e Jamelão. Em 1937, a cantora Heloísa Helena pediu-lhe uma letra para um choro-canção instrumental de Pixinguinha e nasceu o hino Carinhoso. Da mesma forma que modificou Linda Pequena de Noel Rosa para As Pastorinhas, que se tornaria um clássico póstumo do poeta da Vila, Braguinha (com parceiros como o médico Alberto Ribeiro) cunhou o manifesto pré-tropicalista Yes, Nós Temos Bananas (resposta ao fox americano Yes, We Have No Bananas).

Fez ainda tanto o samba-canção de inspiração rural (Mané Fogueteiro, emblemático na voz de Augusto Calheiros, a Patativa do Norte) quanto urbano-modernista como Laura e Copacabana, cuja gravação, de Dick Farney, em 1946, com arranjo de cordas de Radamés Gnattali, seria considerada precursora da bossa nova. Apimentando suas composições à medida que mudavam os costumes (Vai com Jeito, Garota de Saint-Tropez, Garota de Minissaia), ele também arquitetou com delicadeza a mais impressionante coleção de discos infantis, aclimatando para o Brasil histórias da Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Alice no País das Maravilhas, além de recuperar inúmeras cantigas de roda. Com espírito de criança, Braguinha foi um retrato cantado da alma jovial do Rio de Janeiro dos melhores tempos. Faleceu em 24 de dezembro de 2006, aos 99 anos, no Rio de Janeiro


Discografia Braguinha*

78 Rotações

Para vancê/Coisas da roça (1929) (Parlophon 78)
Desengano/Assombração (1929) (Parlophon 78)
Salada (1929) (Parlophon 78)
Não quero amor nem carinho (1930) (Parlophon 78)
Dona Antonha (1930) (Parlophon 78)
Minha cabrocha/A mulher e a carroça (1930) (Parlophon 78)
Quebranto (1930) (Parlophon 78)
Mulata (1931) (Parlophon 78)
Cor de prata/Nega (1931) (Parlophon 78)
Tu juraste… eu jurei/Vou à Penha rasgado (1931) (Parlophon 78)
Samba da boa vontade/Picilone (1931) 13.344 78
O amor é um bichinho/Lua cheia (1932) (Parlophon 78)


LP
João de Barro (1972) (RCA Victor)
João de Barro e Coisas Nossas (1983) (Funarte)


CD
Yes, nós temos Braguinha (1998) Funarte/Atração CD
João de Barro (Braguinha)­ — Nasce um compositor (1999) Revivendo CD
João de Barro — A música do século, por seus autores e intérpretes (2000) Sesc São Paulo CD
CD 100 Anos de Alegria Braguinha (João de Barro)


Fontes:
http://www.samba-choro.com.br/artistas/braguinha
http://educacao.uol.com.br/biografias/braguinha-carlos-alberto-ferreira-braga.jhtm
http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_de_Barro
http://www.mpbnet.com.br/musicos/braguinha/

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