sábado, 10 de março de 2012

PERNAMBUCO, UM EFERVESCENTE CALDEIRÃO CULTURAL

A música de Pernambuco nunca esteve em tamanha efervescência como de uns anos pra cá. A cada novo ano surgem novas e agradáveis surpresas na cena cultural da terra do rei do baião.

Por Bruno Negromonte



No último mês de janeiro o programa Roda Viva, apresentado pela Tv Cultura de São Paulo, teve como convidado o cantor e compositor pernambucano Lenine e, dentre os participantes, lá estava o também cantor, parceiro e compositor do entrevistado, Lula Queiroga. Queiroga, em dado momento, ao se referir a diversidade musical existente em sua terra soltou a seguinte frase: "Pernambuco não é para amadores". Essa definição mostra o porquê de Pernambuco está na crista da onda do cenário musical brasileiro de uns tempos para cá. O estado apresenta-se como um dos caldeirões mais efervescente do cenário cultural brasileiro. Fábio Cabral, proprietário da loja com o maior acervo de música genuinamente pernambucana existente na cidade do Recife, a Passadisco, contabiliza mais de 100 lançamentos de artistas pernambucanos em 2011 e, ao longo deste ano, pretende contribuir de maneira bastante consistente para que 2012 seja mais um ano tão vitorioso para o cenário musical pernambucano quanto o ano anterior, haja em vista que dentre os lançamentos previstos há alguns que levará a assinatura de sua loja (Fábio recentemente lançou o selo Passadisco, que leva o mesmo nome de sua loja).

Neste primeiro trimestre de 2012 Fábio lançou o álbum duplo "Pernambuco frevando para o mundo" (trabalho abordado ao longo do mês anterior em nossas páginas) e ainda em 2012 este, digamos, propulsor da música pernambucana tem por pretensão aumentar esta lista com mais um título cujo a temática fará alusão as festividades juninas. Além do lançamento do selo Passadisco, nestes três primeiros meses do ano já chegaram as lojas diversos álbuns de artistas pernambucanos, como por exemplo "Avante", do cantor, compositor Sérgio Roberto Veloso de Oliveira, o Siba (ex-integrante do Mestre Ambrósio); a gravadora Deck também acaba de lançar em cd, dvd (e posteriormente em vinil) o registro ao vivo do show feito pela Nação Zumbi no Marco Zero em 2009, no fim da turnê baseada no álbum Fome de Tudo. Sem contar com os trabalhos temáticos voltados para o carnaval, como: Galo, frevo e folião – Vários intérpretes (o álbum oficial do maior bloco de carnaval do mundo), Pé de frevo (Vários intérpretes), Compositores e foliões (Vários intérpretes), Festival de Música Carnavalesca do Recife (Vários intérpretes), Turma do Pinguim (Pinguim), Se vira no frevo - Vol. 02 (Som da Terra), Evoé, Nabuco (Almir Rouche), Carnaval ao vivo (Vates e Violas), Fervo (André Rio), As 22 melhores de J. Michiles (J. Michiles), A serenata carnavalesca nº2 (Getúlio Cavalcanti), Carnaval arretado (André Pinheiro), É folia geral (Reginaldo Siqueira) entre outros.

Outra banda que promete entrar com tudo no mercado fonográfico ao longo de 2012 é a Circo Vivant. A banda que foi formada inicialmente em 2004 (passando por uma reformulação em 2007) vem de um elogiado EP lançado em 2009 intitulado Bipolar. Três anos depois, o grupo apresenta ainda neste semestre o seu primeiro álbum, cujo título é AfroAméricaLatinidade (alusão aos ritmos e influências presentes em sua sonoridade). O grupo, formado por Petruchio (voz, percussão, efeitos), Pedro Vivant (voz, guitarra e escaleta), Juninho Duarte (baixo), Do Jarro (bateria), Gustavo Joe (teclado e sintetizadores) e Ganga Barreto (percussão) fará o espetáculo de lançamento do disco no arquipélago de Fernando de Noronha ao longo deste mês de março.
Outra banda no mesmo contexto é a Ska Maria Pastora, que também estreia em disco em 2012 e apresenta ao público o disco “As mar­gens do Rio Doce”. Após um EP lançado em 2008 (mesmo ano da formação do grupo), eles chegam com este álbum que tem na produção a assinatura de Yuri Queiroga e reúne 11 com­po­si­ções auto­rais, além de duas relei­tu­ras para os clás­si­cos do frevo per­nam­bu­cano “Cabelo de Fogo” (Maestro Nunes) e “Elefante de Olinda” (Clidio Nigro e Clóvis Vieira).

Outro grupo que apesar de ter tido seu disco de estreia lançado ao longo de 2011 vem galgando espaço e atenção ao longo deste ano é o "Rua do Absurdo". O grupo formado por Caio Lima (voz e sintetizador), Hugo Medeiros (bateria e marimba de vidro), Nelson Brederode (Cavaco e Bandolim), Yuri Pimentel (baixo e baixo acústico) e Bruno Giorgi (guitarra e overdubs) auto-definem-se como curiosos exploradores das fronteiras estéticas da música, se propõem dar forma a um emaranhado de influências como free jazz, samba e trip rock. Lula Queiroga os bem sintetizou: “Não foi surpresa nenhuma ouvir um material tão bem acabado vindo de uma galera que leva música tão a sério. Do absurdo trabalha bonito entre os timbres e as pausas. A letra cantada faz parte da textura. E o encontro disso tudo resulta numa obra detalhista, minimal. Parabéns a todos da banda Rua e a Nelson por nos lembrar que o cavaquinho pode ser um instrumento tão nobre”.

Em outros gêneros, a música pernambucana também não fica para trás. Nomes do samba e do choro também tem vez como Rui Ribeiro que apresenta-nos Cumplicidade, Beto do Bandolim que vem com Folia das cordas e Gerlane Lops, que traz em CD e DVD o registro, gravado ao vivo no Teatro Guararapes, do espetáculo Da branca. Há também o Nebulosa Quinteto, grupo instrumental influenciado por nomes como Tom Jobim, Villa-Lobos, Hermeto Pascoal, Capiba e Luiz Gonzaga. Formado por Bruno Vitorino (contrabaixo acústico), Fred Lyra (guitarra), Márcio Silva (bateria), Luciano Emerson (clarinete e clarone) e Cecília Pires (flauta); com apenas um ano de formação o quinteto apresenta o resultado dessa miscelânea de sons e influências. Ainda no segmento instrumental vem o trio Saracotia, que é formado por Rodrigo Samico (violão de 7 cordas), Rafael Marques (bandolim de 10 cordas) e Marcio Silva (bateria) que este ano estreia a sua bolacha. Destaque também para Dois animais na selva suja da rua, álbum a ser lançado ainda neste primeiro semestre por Paulo Neto (que foi o vencedor do concurso "Vale cantar Noel" e participou da edição 2006 do programa Ídolos) e traz um álbum repleto de grandes compositores de nossa música popular.



Tal qual
Paulo Neto, outro que apresenta um trabalho no mesmo segmento e de alta qualidade é A foto onde eu quero estar do artista recifense Fênix onde além de assinar seu álbum como João Fênix também vem como compositor assinando seis das 10 faixas presentes no discoe ainda é o autor da versões de outra faixa ("O equilibrista e o as animais"), numa seleção que é completada por pessoais interpretações para "Meu Rio" (Caetano Veloso), "Hallelujah" (Leonard Cohen) e "Delírios" (Paulo César Pinheiro e Pedro Amorim). O público infantil também está assegurado de música de qualidade, pois o professor Bruno César com o trabalho Canções do dia e canções da noite, que traz o músico (especializado em metodologia do ensino da música) passeando por 14 faixas que vão desde canções de domínio público até outras da lavra do artista. O Cd foi fruto de anos de práticas e pesquisas em sala de aula e tem sido muito bem recomendado por pais e profissionais da área de educação musical. Outro exímio artista a lançar-se no mercado fonográfico neste primeiro semestre veio de Petrolina e aportou no Recife para consolidar uma carreira iniciada em sua terra natal. Dono de uma aveludada voz e de um suingue contagiante, o cantor e compositor Zé Manoel que desde a infância tem o piano como companheiro, agora em 2012 também apresenta seu primeiro disco. Com cerca de 15 anos de carreira, um EP lançado em 2009 e na bagagem o título do festival Pré -Amp (cujo prêmio de cerca de R$15 mil reais foi investido na elaboração deste primeiro trabalho), o artista traz um trabalho essencialmente autoral norteado por influências como Chico Buarque e Dorival Caymmi.

Esse caldeirão chamado Pernambuco é assim! Um lugar que vive em constante ebulição e a música se faz força-motriz de sua cultura, mostrando de maneira paradoxa, que há um nicho de mercado para artistas independentes ou não de todos os gêneros, bastando para isso ter talento e apresentar um trabalho que preza pela qualidade no gênero que defende. E é isso que ainda este ano nos apresentará novos trabalhos nomes como Geraldinho Lins, Maciel Melo, Otto e Quinteto Violado totalizando cerca de 35 álbuns até então. Sem esquecer que 2012 também é o ano do centenário de um dos artistas mais representativos do cenário musical brasileiro de todos os tempos, que é Luiz Gonzaga. Até a data do seu centenário, que ocorrerá em dezembro, haverá um número sem fim de lançamentos voltados à obra do velho Lua , como era conhecido por muitos. Dentre os lançamentos há um que merece destaque: o cd duplo em tributo ao rei do baião a se lançado pela Lua Music no segundo semestre.

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